domingo, 28 de setembro de 2008

O menino e o Rock And Roll

Naquele sábado, a mãe concordou que ele embarcasse no trem Francisco Morato-Barra Funda, pela primeira vez sozinho.
Aflita, deixou o filho na porta da estação
- Cuidado.
- Tá mãe.
Ivan estava indo ao aniversário da prima , em São Paulo, e sua tia o esperaria no destino final.
Entrou na estação com todas as recomendações da mãe girando em sua cabeça: “Não fale com estranhos, cuide do dinheiro da passagem, sua tia vai esperar na
catraca, na catraca viu?”.
Não precisou esperar, o trem já estava lá. Embarcou. Conseguiu um lugar na janela, olhou tudo que podia , o mato, os
Ipês roxos dos quais a mãe sempre comentava a beleza , não queria se esquecer dos detalhes.
Sentiu-se dono de si quando viu o
cadarço do tênis desamarrado, e tendo a oportunidade de escolher amarra-lo ou não, sem a mãe por perto, decidiu não amarra-lo.
Tinha pressa de chegar na festa apesar de estar gostando de ser independente.
Estava com a sua camiseta do “Nirvana”, banda antiga da época de seu pai, ganhou a camiseta dele, que era um grande fã da banda do vocalista loiro.
A viagem de ida foi um pouco demorada perante a ansiedade do garoto, o trem estava vazio e
tranqüilo, já o garoto visivelmente agitado.
Por fim o trem chegou ao destino esperado, a conhecida estação da Barra Funda. Caminhava só e a passos firmes como se fosse dono de tudo.
Lembrava-se do caminho. Lá no fundo já via a Tia de sorriso largo e cabelos descuidadamente pintados de loiro,
animadíssima para enforca-lo em um de seus abraços demorados.
- E aí Ivan , tudo certo, veio
direitinho? - disse agarrando o menino.
- Claro tia. - respondeu Ivan um pouco sem ar.
Entraram no F
usca laranja da tia e seguiram para o animado churrasco. Comeu carne, bolo e disputou os brigadeiros.
Quando viu as primas dançando a musica de um tal
MC, disse repetindo o pai:
- Isso daí é uma porcaria, nem têm letra!
- Ah Ivan você é
EMO!- disse tirando um sarro, a prima maiorzinha, que todas as outras seguiam.
“ Essas meninas não sabem de nada” pensou Ivan e saiu sem responder.
Jogou
video-game com o primo crescido. Decidiu que estava na hora de ir. Queria mesmo era voltar ao trem, a aquela sensação de liberdade que pouco aproveitara na vinda, tamanha vontade de estar na festa. Pediu a tia que o levasse a estação.
Comprou a passagem com o dinheiro que a mãe lhe dera, porém dessa vez não tinha pressa de chegar. Desceu a escadas rolantes em um mesmo degrau, deixando-se levar, parou na plataforma e ficou reparando em como ela era grande ...
Chegado o trem,embarcou. Sentou-se e grudou a cara na janela, sem se preocupar com as estações.
Algumas paradas a frente, entraram dois caras no vagão. Um era loiro cabelo comprido, “tipo
Kurt”, notou Ivan. O outro estava com roupas pretas carregava uma guitarra, Ivan não sabia dizer se era mesmo uma guitarra ou se era um baixo, ficou em dúvida porque o instrumento ia dentro de uma capa daquelas pretas aí ficava difícil de saber.
O rapaz louro levava uma mochila da qual saiam alguns ferros que Ivan identificou como um pedestal de microfone.
“ São de uma banda com certeza” Ivan ficou muito atento,nunca havia ido a um
show, tinha 11 anos e a mãe o achava muito novo para ir nestes lugares.
Desta vez o trem ia cheio e eles sem lugar para sentar ficaram perto da porta ao lado da cadeira de Ivan.
O garoto achou os caras demais, sempre que assistia a
MTV ou conversava com o pai, falava que ia ter uma banda e que iria tocar baixo. Achava os caras que tocavam baixo estilosos, não estéricos e metidos como os guitarristas, apesar das meninas gostarem mais destes.
Ivan percebeu que não era só ele quem olhava para os dois. Duas garotas haviam chego mais perto, uma senhora evangélica os analisava com desdém e muitas outras pessoas olhavam e desviavam, sincronizadamente, para aquela
direção do trem.
“E isso porque eles nem são famosos “- constatou Ivan, sem tirar os olhos do rapaz loiro.
O rapaz de óculos escuros, loiro, com um ar de seguro, realmente mexia mais com o trem que o amigo de roupas pretas e cabelos curtos. Ele dominava a situação encarava as pessoas que o olhavam, percorria com a cabeça o trem todo até que finamente seus olhos cruzaram o de Ivan, que ao contrario da maioria ingenuamente sustentou o olhar.
O cara loiro tirou os óculos escuros mediu Ivan e disse:
- E aí moleque, legal a camisa, você curte Rock
and Roll?
Ivan ficou petrificado, o coração quase
despencou pela boca, eles se entendiam, ele não era “EMO” coisa nenhuma e aquele cara sabia.
- Pode crer, Nirvana, sou fã!- respondeu , orgulhoso e entendido
O cara sorriu para ele, e recolocou os óculos no rosto. Ivan ganhou o dia, realmente especial.
Os dois caras desceram em
Caeras, Ivan anotou mentalmente para um dia poder conhecer aquele lugar. Novamente Ivan sentiu pressa de chegar, contava os segundos, queria relatar ao pai o que aconteceu.
Na estação Francisco
Morato, depois da catraca , estava o pai fumando um cigarro a luz do fim da tarde. Vendo o filho estendeu a mão, Ivan recusou-se a andar de mãos dadas, ignorando-lhe o gesto.
- Pai, fiquei amigo de uns caras que tem uma banda, eles curtem Nirvana. Eu quero começar a tocar baixo pai.
O pai ficou orgulhoso e jurou para si mesmo que iria trabalhar duro para dar um baixo a seu filho.
-
Vamo ver filhão. Agora da a mão aqui pro seu pai, e vamo mostrar pra sua mãe que cê ta vivo, porque ela tá super preocupada lá em casa.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

2 mensagens por E-mail

Nunca pensou em não encontra-lo mais, só não o havia procurado, a tempos não se falavam senão por 2 mensagens que escrevera pelo e-mail, ele respondeu como o amigo de antes. Triste , mas não, não o amava. Não era nele que pensava nas horas de carência, era em outro talvez mais ideal, mais maduro.
Ela sempre achou um mistério nele, conheciam-se a anos ,desde o colégio. Ele confessava-lhe os segredos, as paixões e ela sempre lhe tinha um sorriso, um conselho. Vez ou outra ela sentia algo estranho em seu olhar , além de carinho dos amigos desde de muito, gostava deste mistério de pensar que ele a achava especial.
Meses atrás no carro ele depois de desabafar disse “posso?”,olhando-a nos lábios , ela cedeu ao beijo.
Beijaram-se como duas crianças pequenas, só os lábios se tocaram, os corpos se acanharam levemente para atrás. Pararam, ela tentou dizer alguma coisa para... só saiu um “estranho”, com o qual ele se desesperou, disse “somos amigos”,ela chateou-se, como qualquer uma gostaria de ouvir “uauuu”,mas fez que não e quis provoca-lo. Deitou em seu peito e tornou a beija-lo ele cedeu, ela retrucou “somos amigos” ele não entendeu e alivio-se.Ela bateu a porta do carro sorriu, e entrou em casa.
Entenderam-se, com desculpas , “aconteceu”, “foi bobagem”.Não se percebiam.
Novamente a sós conversaram sobre a vida o futuro e o dinheiro, beberam, e os corpos se quiseram, quase se amaram e ele disse “Não, não dá mais”, ela quis entender, fez que entendeu, calma ela olhou-o por um instante, ele assombrou-se teve medo dela, levantou-se arrumou a roupa e saiu. Ela , sentiu um golpe mudo tomar seu corpo, revirou -se , tentou chama-lo. Dormiu só naquela noite e depois com outros.
E agora entre amigos, 2 mensagens por e-mail.

Sheyla Coelho

sábado, 6 de setembro de 2008

O mais querer

Quero tudo, enquanto acho que sou nada,
quero mais nada quando vejo um pôr do sol,
quero mudar quando descubro novos motivos,
quero viver quando penso na morte,
quero amar quando vejo um céu estrelado,
quero saber quem sou quando falo de mim,
quero mudar quem fui quando escrevo currículos,
quero saber de você quando dou minha mão a ciganas na rua,
quero o querer sem saber de onde ele vem ,
quero os genéricos quando me perco de ti,
quero minha alma de volta quando olho fundo nos seus olhos,
quero, quero, quero
e nada sei eu mais que querer
quero querer quereria
quisesse eu o certo não saberia
quero .
 
Sheyla Coelho