terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Cena de Verão

Hoje é verão e as mulheres tiram do armário os vestidos longos e frescos.
O olhar dos homens das esquinas saltam do rosto, retorcem o pescoço, na esperança de que a cadência dessas pernas ocultas em tecido largo, revele-se nua um dia em suas camas.
Enquanto isso as donas da dança verão, caminham leves e com uma só razão: Fazer saltar um só olhar, aquele do homem a quem elas possam amar.
Os homens das esquinas têm lá a sua função, enchem-nas de certeza, porque se esses olham como aquele não há de olhar?
Sheyla Coelho

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Esperança

Eu não sei porque. Às vezes, quando eu abro meu e-mail cresce uma esperança dentro do meu coração, uma ansiedade de sei lá o que. Parece que quando finalmente surgem os "nomesinhos" seguidos de seus "assuntinhos" , alguma coisa dentro desses 'assuntinhos" vai fazer que meu dia não seja mais um "diazinho". Mas nem sempre alguém está disposto. Tudo, o coração que bateu forte quando dei Enter na senha, a fantasia daquele cara que nunca gostou de mim se declarar apaixonado, o emprego mais foda do mundo, tudo isso se acaba em promoções das "Lojas Marisa", "Dieta Já", "Porta Curtas Petrobrás", correntes que sempre dizem que para você conseguir o que quer, vo têm que infernizar a vida de mais 300 pessoas....

sábado, 14 de novembro de 2009

Mulher Beat

- Garçon, um homem Cowboy e um whisky na hora marcada, por favor.
- Anh?

Sheyla Coelho

Aquele Deitado

-Valha me Deus e Nossa Senhora porque o dinheiro mesmo acabou!
-...

Sheyla Coelho

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Prece da mulher desesperada

-Oh meu Santo Antônio!
São tantos os João, os Alfredo, os Benedito...
Desocupa um aí pra mim, vai?
Mas vê se capricha,
Nada de manda um meio bicha!
Sheyla Coelho

Filosofia de Boteco

Todos os dias durmo com a esperança cheia de um novo dia e quando acordo fica só vazio de todo o dia.
Da janela vejo centenas de janelas guardando mais de mil olhos a se descobrir e eu nunca consegui descobrir nada, nem daqueles que estão a olhar por mim. Parece que nesse caminho de viver o único somatório possível é o do saber, e sabendo reconhecer que não se pode controlar o que a vida faz com você.



Sheyla Coelho

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Chorinho

Sou ainda aquela melancólica eu desde pequenininha, com uma angustia desesperada por parecer sempre sozinha , a mesma euzinha, com a esperança doída e do tamanho de um trem de ser um dia quem sempre sonhei. Sonhei casa, teto, palco, câmera, microfone mas sonhei ainda mais e mais bonito sonhei sorriso, apertão, cócegas, chiclete, bala paçoca, casamento em rosa choc, aquela coisa que desconfiava ser bom debaixo da coberta. Sonhei, sonhei queria um dia sonhar novo. Enquanto isso, sonho tudo de novo.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Hora

A boca tremeu , espremeu o verbo que não acrescentaria em nada. Se deixassem-na explicar se prejudicaria mais.
-Isso menina, aquiete-se e não complique-se. Feche os olhos, são brilhantes demais.
Fechou os olhos com força, engoliu o soluço e esperou o momento certo que nunca chega.

Sheyla Coelho

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Rio de Janeiro

Sentei-me à cama com um arrepio frio pós pesadelo. Sonhei-me só no Rio de Janeiro. Sonhei-me louca desvairada perguntando aos transeuntes onde fora parar o mar que não o via, só senti-lhe o cheiro?
Todos me sorriam e eu nada entendia."Onde foi parar o mar?", eu alto dizia.
Andei descalça e de chapéu de praia. " Que praia meu Deus?" Andei ,andei e quando os meus pés no asfalto queimaram, sentei-me em um banco de praça. Respirei fundo. "Mas isso é cheiro de mar! Por Deus, só quero ver essa água."
Acordei e quando o arrepio passou pensei: "Nunca fui ao Rio de Janeiro. Só o que sei de lá é que há Copacabana, Cristo de braços abertos e muita água. Talvez o que eu sei sobre o Rio não é o que o Rio sabe de mim. Como posso ter visto tanta gente e nenhum Cristo e nenhuma água?
Lenvantei, abri a janela sem paisagem de São Paulo no centro. Respirei fundo "É fumaça... Poxa, será que nem em sonhos saio do que já conheço?"

Sheyla Coelho

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Rondó da mulher só


Estou só, quer dizer, tenho ódio ao amor que terei pelo desconhecido que está a caminho, um homem cujo rosto e cuja voz desconheço.
Sempre estive duramente acorrentada a essa fatalidade, amor. Muito antes que o homem surja em nossa vida, sentimos fisicamente que somos servas de uma doação infinita de corpo e alma.
O homem é apenas o copo que recebe o nosso veneno, o nosso conteúdo de amor. Não é por isso que o homem me atemoriza, quando aqui estou outra vez, só, em meu quarto: o que me arrepia de temor é este amor invisível e brutal como um príncipe.
Quando se fala em mulher livre, estremeço. Livre como o bêbado que repete o mesmo caminho de sua fulgurante agonia.
A uma mulher não se pergunta: que farás agora da tua liberdade? A nossa interrogação é uma só e muito mais perturbadora: que farei agora do meu amor? Que farei deste amor informe como a nuvem e pesado como a pedra? Que farei deste amor que me esvazia e vai remoendo a cor e o sentido das coisas como um ácido? É terrível o horror de amar sem amor como as feras enjauladas.
É quando o homem desaparece de minha vida que sinto a selvageria do amor feminino. Somos todas selvagens: são inúteis as fantasias que vestimos para o grande baile. Selvagem era a romana que ficava em casa e tecia; selvagens eram as mulheres do harém, as mais depravadas e as mais pudicas; selvagem, furiosamente selvagem, foi a mulher na sombra da Idade Média, na sua mordaça de castidade; mesmo as santas - e Santa Teresa de Ávila foi a mais feminina de todas - fizeram da pureza e do amor divino um ato de ferocidade, como a pantera que salta inocente sobre a gazela. E selvagem sou eu sob a aparência sadia do biquíni, olhando a mecânica erótica de olhos abertos, instruída e elucidada. Pois não é na voluntariedade do sexo que está a selvageria da mulher, mas em nosso amor profundo e incontrolável como loucura. O sexo é simples: é a certeza de que existe um ponto de partida. Mas o amor é complicado: a incerteza sobre um ponto de chegada.
Aqui estou, só no meu quarto, sem amor, como um espelho que aguarda o retorno da imagem humana. O resto em torno é incompreensível. O homem sem rosto, sem voz, sem pensamento, está a caminho. Estou colocada nesse caminho como uma armadilha infalível. Só que a presa não é ele - o homem que se aproxima - mas sou eu mesma, o meu amor, a minha alma. Sou eu mesma, a mulher, a vítima das minhas armadilhas. Sou sempre eu mesma que me aprisiono quando me faço a mulher que espera um homem, o homem. Caímos sempre em nossas armadilhas. Até as prostitutas falham nos seus propósitos, incapazes de impedir que o comércio se deixe corromper pelo amor. Quantas mulheres traçaram seus esquemas com fria e bela isenção e acabaram penando de amor pelo velhote que esperavam depenar. Somos irremediavelmente líquidas e tomamos as formas das vasilhas que nos contêm. O pior agora é que o vaso está a caminho e não sei se é taça de cristal, cântaro clássico, xícara singela, canecão de cerveja. Qualquer que seja a sua forma, depois de algum tempo serei derramada no chão. Os vasos têm muitas formas e andam todos eles à procura de uma bebida lendária.
Li num autor (um pouco menos idiota do que os outros, quando falam sobre nós) que o drama da mulher é ter de adaptar-se às teorias que os homens criam sobre ela. Certo. Quando a mulher neurótica por todos os poros acaba no divã do analista, aconteceu simplesmente o seguinte: ela se perdeu e não soube como ser diante do homem; a figura que deveria ter assumido se fez imprecisa.
Para esse escritor, desde que existem homens no mundo, há inúmeras teorias masculinas sobre a mulher ideal. Certo. A matrona foi inventada de acordo com as idéias de propriedade dos romanos. Como a mulher de César deve estar acima de qualquer suspeita, muito docilmente a mulher de César passou a comportar-se acima de qualquer suspeita. Os Dantes queriam Beatrizes castas e intocáveis, e as Beatrizes castas e intocáveis surgiram em horda. A Renascença descobriu a mulher culta, e as renascentistas moderninhas meteram a cara nos irrespiráveis alfarrábios. O romancista do século passado inventou a mulherzinha infantil, e a mulherzinha infantil veio logo pipilando.
O tipos vão sendo criados indefinidamente. Médicos produzem enfermeiras eficientes e incisivas como instrumentos. Homens de negócios produzem secretárias capazes e discretas. As prostitutas correspondem ao padrão secreto de muitos homens. Assim somos. Indiquem-nos o modelo, que o seguiremos à risca. Querem uma esposa amantíssima - seremos a esposa amantíssima. Se a moda é mulher sexy, por que não serei a mulher sexy? Cada uma de nós pode satisfazer qualquer especificação do mercado masculino.
Seremos umas bobocas? Não. Os homens são uns bobocas. O homem é que insiste em ver em cada uma de nós - não a mulher, a mulher em estado puro ou selvagem, um ser humano do sexo feminino - o diabo, a vagabunda, a lasciva, o anjo, a companheira, a simpática, a inteligente, o busto, o sexo, a perna, a esportista... Por que exige de nós todos os papéis, menos o papel de mulher? Por que não descobre, depois de tanto tempo, que somos simplesmente seres humanos carregados de eletricidade feminina?
Paulo Mendes Campos



quarta-feira, 1 de abril de 2009

Sem Postagens

Faz tempo que não posto nada, estou um pouco enjoada desses encontros desencontros acho que me esgotei em alguns assuntos. Começo a criticar mais do que gostar desse caminho em que estava seguindo.
Para as pessoas que lêem o blog: Talves ainda eu poste coisas que fazem parte desse começo e que estão guardadas...ando afim de dizer sobre outras coisas, só não sei como ainda, os caminhos estão confusos dentro de mim, as emoções misturadas e um pouco frustadas.
Ah! E quanto os erros que vocês encontram de pontuação e de palavras mesmo, não fiquem a rir e a me críticar no conforto de suas cadeiras, me ajudem, avisem eu sou bem desatenta e não tenho vergonha de adimitir que não sei muitas coisas ...
Obrigado a quem lê porque quer ver uma história acontecer e pobre de quem pensa que vai me achar aqui, pois é aqui que eu permito perder-me.
Sem mais e com milhoes de  " por que"!!!
Sheyla Coelho

quinta-feira, 5 de março de 2009

Primos

Primos, jovens e na mesma profissão.
Ele : alto, magro e sem rumo.
Ela: a dona mestra do sorriso.
Ele nem tão sonhador, ela a portadora da justiça, ele se achava profundamente sem sorte e a amava na infância, ela adorava vencê-lo na sinuca, o lazer dos homens da família.
Todos diziam que ela teria um futuro brilhante, ele era quase um esquecido.
No final do ano ela terminará a faculdade de direito, ele já advoga pequeno município onde nasceu.
Neste momento estão juntos, na mesma sala da infância, ela viajou quilômetros e ele fez o percurso de alguns poucos quarteirões a pé.
A avó, símbolo da doçura desta família, que sempre foi a acolhedora, a responsável pelas reuniões, hoje, era velada com muita tristeza.
Em um canto da sala, sem mexer um músculo ele chora. As lágrimas escorrem continuamente, sem precisar da ajuda das pálpebras, já avermelhadas.
Do outro lado, ela permanece calada e de olhos secos.
Os dois se olham, ela admira sua dor expressada e tenta preencher o vazio de sensações que dominam seu peito, ele pensa em como seria bom abraçá-la.
Com uma ternura intensa, digna da avó, sorriem um para o outro.
Ele se levanta e vai até a cozinha. Ela, como se seguisse uma coreografia, faz o mesmo.
– Quanto tempo - ele diz, para quebrar o silêncio .
– Tenho estudado muito – ela diz, pegando um café.
Ele tira a xícara das mão dela e a abraça. Não dizem , só se entregam neste abraço calmo, aconchegante, em que se pode sentir a outra pessoa.
Passam o resto da noite muito próximos.
Após o enterro, ela promete a ele que voltará, virá visitar ele e a família, mas ele bem compreende que não, que a única coisa que os unia fora enterrada ali, há poucos minutos. Fora a avó ela não tinha um verdadeiro motivo que a trouxesse.
Talvez ela se lembrará desta cumplicidade nas noites em que sentir-se só na grande cidade. Ele retomará o amor platônico da infância por alguns dias, talvez semanas, e depois esquecerá.
Até o dia em que, por morte, saudade ou acaso, eles tornem a se encontrar.

5 mim

Com os pés, agora descalços, refresco-me do meu dia.
Caminho pelos pisos de minha sala , fecho os olhos e me retiro a pensar no mar...
Consigo inventar a brisa a passear no meu rosto, a languidez dos meus passos na areia,e por alguns instantes sou plena e feliz .
Até que um tolo pensamento me diz: "você nunca gostou de praia".
Despenco no abismo da realidade, olho para minha sala, minha mesa sempre bagunçada,
o copo ainda com um último gole de vinho da noite passada.
Penso no trabalho , sinto novamente o cansaço do dia a perseguir-me.
Respiro fundo, fecho meus olhos e retiro-me a pensar em ti.
Crio suas mãos em volta de minha cintura, e sem nenhuma palavra dura,
ouço no melhor tom o que você jamais me disse...
Outro pensamento me vêm, porém perante esse aviso anti-você eu ensurdeço.
Consciente eu ignoro, preciso de mais 5 minutos .

Blues

Já não me sinto tão solitária.
Os pensamentos, em ti, são tão vorazes
Que me esqueço do cigarro em brasa.
Estúpidamente, queimo os dedos
E isso me traz à realidade melancólica,
Dos dias de trabalho duro,
Das festas medíocres,
Dos copos gelados de cerveja
Que imploram por uma boca quente,
Do medo que me persegue como um assassino de aluguel;
Podre, persistente e sedutor.
A vida parece fria diante dos desejos .
E o Blues que grita no vinil,
Implora a sua presença
Nesta noite machucada pela realidade.

Boba

Eu sou uma boba muito boba,
que a cada minuto se arrepende da explosão anterior,
perdida em pensamentos que ora se acalmam
quase adormecem
ora gritam,
sem intervalo.

Passa tempo incontrolável, incoercível
e a cada milagre do segundo
chegam tão próximos e confusos
ora a dor ora o alívio.

Nunca sei o hora certa do amor
O possuo em baldes caudalosos
E assim o que é para se compartilhar em todas as horas
ora se esvazia em um impulso gordo, atrapalhado
ora se afoga em um micrésimo de vaidade.