quarta-feira, 4 de abril de 2012

A comédia humana.

Uma vez alguém me disse que carregava sua família em um bolsa vermelha. Pensei bem. A princípio, me encantei com a metáfora depois me encantei com esse alguém. Por um instante quis ter uma bolsa dessa. Assim, quando eu me sentisse triste com o mundo ou até quem sabe comigo mesmo, eu abriria minha bolsa e vendo minha família talvez eu pudesse compreender a minha angustia . Cada um, a sua maneira, poderia me aconselhar. Mas eu descobri que essa bolsa faz a gente ir mais longe. A primeira pergunta é: Com quem eu me pareço mais?

Depois vêm o medo de se parecer com quem a gente não gosta e em determinado momento ficamos com a resposta mais simples: “- Sou um pouco de todos”.

Mas a dor da vida, a poesia das folhas que caem em nossas cabeças, os olhares que nós trocamos com cada pessoa que nos importa, tudo isso que parece tão particular, tão próprio... tudo viraria uma massa só. As folhas e os olhares estão aí para quem está disposto a trocar, mas o significado que essas coisas ganham depende de tudo o que o universo improvisa em um determinado instante.

Se fossemos simples combinação de arquétipos em um determinado momento encontraríamos alguém exatamente com nós. E todo encanto se perderia. O fato de eu enxergar uma folha como um milagre reestrutura todos os meus arquétipos e faz deles diferentes dos teus, mesmo que na minúcia. Eis a comédia humana: a gente ri porque essa pequena diferença permite, a gente ama porque a diferença do outro nos completa, a gente briga porque nos incomoda.

E o universo improvisa, promovendo alguns encontros e adiando outros. E em cada atrito, paixão e amor que acontecem verdadeiramente ficamos pasmos diante de nossas diferenças. E assim,mais uma vez, como em um choque de moléculas nossas famílias se reorganizam e somos novos apesar de iguais. Para mudar, basta deixar o zíper da razão despretensiosamente aberto. E tudo acontece quando a gente menos espera, respostas que não sabemos, podem se resolver num simples abraço com alguém. Na troca de duas ou três palavras a confusão pode se tornar reorganizada. Então a família dorme em paz na bolsa, até o próximo encontro.