sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Falsa Alegria

A luz do fim do túnel ainda não era a saída.
Era uma vela que sem mais porque se acendeu
E não sei quem apagou.
O sorriso foi despedaçado,
A certeza caducou
E voltei assim perdido
Para a insegurança de quem sou.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Imperfeito

Se você pudesse me beijar
Seria mais que literatura,
Seria mais que, mais que perfeito.
Se você pudesse me abraçar
Seria mais que, mais que...
Loucura!
Seria letra música,
Seria alegria instantânea.
Pena você, pena ela ...
pena nós, pena de mim.
Sou sempre samba-canção
nada de bossa, nada de beijo
sempre, sempre, sempre imperfeito.
Lá vou eu, caminhando,
sorrindo de doente,
de esperança tola persistente.
Se você não fosse, se ela
se nós, pena de mim.
Seria...
Loucura!
Se você vier,
se ela não vir, tortura para mim
Seria errado, mais tão humano.
Seria bossa nova, seria mais que, mais que
Faça verão!
Faça verão!
Se você, se ela
Não, não..
Sim, sim!!
Nunca vi tanta agonia, tanta alegria.
Seria de se não fosse a.
tudo no imperfeito!
Só falta agora
é que seja breve
que passe!
Passe imperfeito.
Venha presente!



Colchão

Sonhar, sonhar

sonho balão,

de ar e de voar.

Sonhar, sonhar

sonho fujão,

dá de sumir ao acordar.

Sonhar, sonhar

sonho de não,

de tremer e de chorar.

Sonhar, sonhar

Sonho pião,

de virar e enrolar.

Sonhar, sonhar...

sonho de acordar,

sonho de virar,

sonho de dormir!

Balão , fujão, colchão,

pião, ETA sonho bão!


Sheyla Coelho

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A Grande Teimosia

"O homem vive a facilitar as coisas mais teima em complicar-se!
Caríssimo homem, se liga daí , que eu me torço daqui.
Para que internet, cabos, nano-tecnologia se me vens rezar por depressão e xenofobia!"
Foi meio assim que entendi, agora, se era Deus a ajudar ou o Diabo a confundir, sem resposta hei de ficar!

Sheyla Coelho

sábado, 28 de agosto de 2010

Meninos armados

A pena destreinada do poeta paulistano
não consegue mais escrever sem plano.
O poeta olha à rua e não concretiza.

A pena do poeta paulistano sufoca o verso.
Ao ritmo dos garotos sujos do centro com suas facas à mostra,
O poeta olha à rua e se "depena".

Sofre o coração boêmio do poeta,
Falta-lhe a esperança no verbo.
O poeta fecha os olhos à rua.

Pena de pena a pena
Largada a mercê na vasta mesa.
Não há palavra escrita à revolução necessária.
O poeta retorna a olhar à rua sem saber o que lhe valha a pena.


Sheyla Coelho

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Aonde você foi?

O que aconteceu? Pode ser qualquer coisa... Mas eu não me lembro. Quando foi que eu me esqueci? Onde foi que eu deixei você ? Na gaveta da cozinha? Não, eu não faria isso, lá é gelado. Como você é era mesmo? Engraçado, isso! Lembro-me de uma piada, quer dizer, lembro que eu sorri... não sei se era piada. Talvez no meu bolso, é acho que sim ...Eu gostaria de ter você no bolso, assim, toda vez que eu fosse procurar algo ou sentisse frio eu acharia você e ficaria feliz..Poxa é isso! Coloquei o casaco para lavar e você deve ter desbotado. Então, dias depois não te reconheci porque você não tinha cor e eu estava tão triste de ter te perdido que talvez eu mesma tenha te jogado fora. Me desculpa se não fui cuidadosa, ao te colocar no bolso fui pretensiosa. Eu não queria te sufocar no meu bolso nem te dar um banho de água fria ao não superar sua expectativa. É tão bom ter alguém por perto. Eu só queria você o bastante para não saber ouvir se você também me queria.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Poesia Avessa

Eu queria
escrever uma poesia
pra você não gostar de mim.

Te descreveria em grosserias:
"Essas tuas mãos escamosas arranharam meu corpo,
embrulharam meu estômago devastaram meu ego!"

Seria fácil e menos pedante que a verdade.
Seria arte, não essa bobagem toda
de que meu corpo tremeu
que tive medo, que senti-me tola!

Seria bruto, maldito,seria sexy,
se eu escrevesse uma poesia
para você não gostar de mim.

Seria menos dolorido,
menos sofrido do que a verdade,
Seria inteligente escrever uma poesia para
que eu não esperasse que você, enfim, gostasse de mim.


Sheyla Coelho


terça-feira, 2 de março de 2010

Procura-se

Eu perdi alguém que eu amava numa dessas esquinas e não foi por acidente , nem por morte. Eu perdi alguém que se perdeu de mim. Puf. Talvez por nunca ter se encontrado e eu lhe oferecer um caminho ainda mais errado, talvez por nem eu saber onde me encontro para poder achar alguém. Só sou saudades de alguém. Tenho medo de perder-me, chorando muito, se em uma dessas esquinas fosse procurar alguém e não encontrasse. Sei que foi eu quem perdeu alguém e por isso eu que deveria procurar. Mas alguém, me achando em uma dessas esquinas, me olhe nos olhos como antes de nos perdermos, e, com calma, atravessaremos todas essas esquinas.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O Argentino

O argentino. No caso seriam dois argentinos. Peguei o mesmo ônibus de sempre, não, melhor começar quando o primeiro argentino entrou em minha vida.
Ontem, revirando o armário do meu primo para ver se algum livro me tirava do tédio de minhas férias forçadas, encontrei Borges.
Comecei a lê-lo, já havia visitado algumas de suas histórias pela internet . À noite levei-o para cama e sem forças para chegar ao fim adormeci a seu lado. Acordei tarde, como todo semi-empregado, quando me animei para sair resolvi que iria pegar o mesmo ônibus de sempre, porque sempre que eu inovo a vida debocha.
No ônibus havia aquela tradicional paçoca de gente. Em certa altura do trajeto, quando estavamos na ex praça da Manchete, dois homens e uma mulher se aproximaram do meu banco. Não dava para saber se eles entram ali ou se só agora conseguiam chegar mais para o fundo do ônibus. Classicamente como em todo ano de copa do mundo eles falavam sobre "football" , para minha surpresa o mais bonitinho começou “hablar” sobre Maradona e num tom de deboche social o outro disse:
-O único argentino que eu gosto é você!
Achei engraçado o argentino ali, solitário de compatriotas, no ônibus lotado. A minha imaginação infantil me fez pensar “Será que existe ônibus lotado na Argentina?”. Por outro lado, um jogo de informações mais sensato me trouxe a mente “O Morto” de Borges e o suposto brasileiro Azevedo Bandeira, líder de um grupo de mercenários na Argentina .
Um dos comentários de Borges sobre Azevedo Bandeira era: “ Alguém opina que Bandeira nasceu do outro lado do Quaraí, no Rio Grande do Sul, isso, que deveria rebaixá-lo, obscuramente o enriquece de selvas populosas, de lamaçais, de inextrincáveis e quase infinitas distâncias”
Agora consegui transcrever exatamente as palavras de Borges , porém, no momento em que o segundo argentino da minha vida me olhou nos olhos eu as senti em mim, no meu cabelo ondulado, na boca vermelha que insisti em pintar sem motivo aparente. Fui Azevedo Bandeira naquele instante.
Os amigos do argentino que pareciam ser do trabalho desceram do ônibus na Barra Funda, onde geralmente o ônibus esvazia , para novamente lotar e ir rumo a Vila Madalena. Eu já estava sentada e o argentino de pé. Quase todas as demais poltronas estavam livres inclusive a que era bem ao meu lado.Pressenti que ele se sentaria ao meu lado. Optei por não olhá-lo a decisão teria de vir dele. Feito! Meio sem jeito, com medo de encostar em mim ele se sentou. Rapidamente coloquei os fones de ouvido, tive vergonha do próximo passo que já havia decidido tomar. Sim, o Borges ia comigo dentro da bolsa e agora seria a hora perfeita de colocá-lo para fora alisando-o na capa para dar uma valorizada. Sei que não faz sentido colocar fones no ouvido quando se quer que uma pessoa fale com você, mas era como um efeito dispersivo para não parecer oferecida demais , afinal de contas eu não tinha entendido se aquilo era uma paquera real ou um tesão derrubador de fronteiras xenofóbicas futebolísticas.
Senti o olhar dele nas paginas que eu lia (mais olhei para as palavras que compreendê-las), tive medo de fulminá-lo com o brilho deslumbrado que minha imaginação provavelmente desencadeava em meu rosto, por isso, não virei na sua direção. Concentrei-me primeiro em sentir-lhe o cheiro, mas o ônibus lotado confundiu meu olfato.
Nenhum comentário. Eu não tenho certeza, mas para mim o Jorge Luis Borges na Argentina era tipo um Jorge Amado aqui (na questão popularidade), ele poderia fazer um comentário. Ah sei lá, se eu tivesse na França e de repente um francês gato tirasse um Jorge Amado da mochila, mesmo sem conhecer sua obra eu diria “ Esse escritor é brasileiro muito famoso lá, não sabia que era lido fora também e aí tá gostando?” , não precisa ir longe se eu tivesse num ônibus lotado sem ninguém interessante no Uruguai e alguém tirasse um Jorge Amado da bolsa eu falaria a mesma coisa, só pra descontrair.
Ele se encostou no meu ombro, tudo o que eu pensava se desfez em neblina, fiquei quieta para tentar ouvir da parte do seu corpo que encostava no meu toda a sua real história. O coração bateu forte, parecia intimidade demais. Tive medo desse desconhecido, perdi o foco me levantei com uma borboleta bêbada, sem saber por que. E em segundos tropecei no pé do argentino, dei sinal para descer antes do previsto, desci e só consegui encará-lo quando estava na calçada de frente para a porta traseira do ônibus. Para minha surpresa ele alcançou o meu olhar até o ônibus partir e pela janela nos concentramos um no outro até o motor vencer os meus passos acelerados na calçada.O deixei ir, para ele tentar ser mais uma boa história.
Dos dois argentinos fiquei com o invisível e imaginativo, Borges continua na minha bolsa, e o real ,o que eu não sei se é Jorge, foi engolido pelas selvas populosas e pelos lamaçais de bem do outro lado do Quaraí que o outro, à muito, imaginou.