quinta-feira, 17 de junho de 2010

Aonde você foi?

O que aconteceu? Pode ser qualquer coisa... Mas eu não me lembro. Quando foi que eu me esqueci? Onde foi que eu deixei você ? Na gaveta da cozinha? Não, eu não faria isso, lá é gelado. Como você é era mesmo? Engraçado, isso! Lembro-me de uma piada, quer dizer, lembro que eu sorri... não sei se era piada. Talvez no meu bolso, é acho que sim ...Eu gostaria de ter você no bolso, assim, toda vez que eu fosse procurar algo ou sentisse frio eu acharia você e ficaria feliz..Poxa é isso! Coloquei o casaco para lavar e você deve ter desbotado. Então, dias depois não te reconheci porque você não tinha cor e eu estava tão triste de ter te perdido que talvez eu mesma tenha te jogado fora. Me desculpa se não fui cuidadosa, ao te colocar no bolso fui pretensiosa. Eu não queria te sufocar no meu bolso nem te dar um banho de água fria ao não superar sua expectativa. É tão bom ter alguém por perto. Eu só queria você o bastante para não saber ouvir se você também me queria.

Um comentário:

João Alves disse...

Você me lembrou a Clarice no início do "A Paixão segundo GH", daí eu como sou sem noção peguei todo o trecho para lhe mandar.Segue: "Estou procurando, estou procurando. Estou tentando entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda. Não confio no que me aconteceu. Aconteceu-me alguma coisa que eu, pelo fato de não a saber como viver, vivi uma outra? A isso quereria chamar desorganização, e teria a segurança de me aventurar, porque saberia depois para onde voltar: para a organização anterior. A isso prefiro chamar desorganização pois não quero me confirmar no que vivi – na confirmação de mim eu perderia o mundo como eu o tinha, e sei que não tenho capacidade para outro.
Se eu me confirmar e me considerar verdadeira, estarei perdida porque não saberei onde engastar meu novo modo de ser se eu for adiante nas minhas visões fragmentárias, o mundo inteiro terá que se transformar para eu caber nele.
Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar. Estou desorganizada porque perdi o que não precisava?"
Beijos