Demoro meses para falar com alguém ou um segundo. Hedonista
Conservadora, foi a última definição
insana e contraditória que me dei. Por quê? Ah sei lá, porque eu sou impulsiva
e um segundo depois tudo que eu fiz me aterroriza. Mas não se engane: eu faria
de novo. Acho tudo caro e reclamo, sim, eu reclamo. Tomo café de noite. Tenho
pavor de aviões, mas sou obrigada a entrar neles. Na verdade, os meios de
transporte me assustam. Como uma coisa de lata pode correr tanto? Eu bebo sozinha
em bares, eu gosto disso. Odeio baladas,
a não ser que eu esteja muito bêbada e feliz ao mesmo tempo, nesse caso, você
pode me encontrar virando piruetas em lugares improváveis e roubando
microfones. Ah, eu também fico muito tarada nessas ocasiões. Mas tudo bem,
porque não é com frequência que isso acontece ( essa é desculpa que me dou
quando acordo). Eu tenho poucos amigos, mas são amigos de muito tempo. Eu amo
crianças. Eu gosto muito de escrever, mas odeio corrigir. Tenho pavor das
normas da ABNT. E já fiz coisas: como me corresponder por cartas, ler para
cegos, andar pela paulista vestida de Marilyn Monroe e fingir que eu estava
fazendo um strip-tease na feira da Pompéia, porque me contrataram para ler
poemas e ninguém parava para ouvir, funcionou. Os mendigos e malucos me param
na rua e eu falo com eles. Já não saí com um cara porque eu estava conversando
com uma prostituta e ele a tratou mal, paguei a conta toda pedi mais dois
chopps e mandei-o (jamais escreveria “mandei-o” foi o Word) embora. Escrevo
poemas e mando para os outros. E acho isso ruim, mas faço. E os poemas não são autobiográficos,
no limite são uma “desautobiografia”. Acho
mais fácil escrever ou dançar do que falar, apesar de falar muito. Falo muito
justamente porque não falo com muita gente. Então quando encontro alguém com
quem me sinto a vontade, falo muito. Muitas vezes não olho para as pessoas nos
olhos quando elas estão falando, porque gosto de imaginar o que elas estão
falando. Os olhos das pessoas me sugam. Fico hipnotizada. É como se não fizesse
sentido falar. E as pessoas não gostam muito disso. Então, para prestar atenção
no que elas estão falando olho para o lado. Eu não conheço você, você não me
conhece e é claro que eu usaria um método estranho para fazer isso porque eu
faço assim, mesmo não querendo. Mas eu já fiz coisas piores e não tive
redenção, já acreditei que as pessoas mais babacas poderiam ser legais. E eu
sempre sobrevivi. Porque me interessa conhecer os outros, de verdade. Assim, por
nada. Porque eu tenho medo da morte e do escuro. Porque a vida vive escorrendo
das nossas mãos, e minha maneira de pegá-la é essa. Sou só uma pescadora de
palavras, tão insegura quanto segura.
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