segunda-feira, 28 de julho de 2008

A Bela do Cigarro

Fumava cigarros como uma artista de cinema antigo. Gostava de sair só, sentava-se sempre em uma mesa estratégica, onde fosse possível observar, gostava de ver outras pessoas conversando, achava incrível como as pessoas falavam de assuntos tão diversos e tão próximos; sempre havia uma mulher a ser execrada no papo de mulheres, sempre havia a mulher gostosa no papo dos garotões, e sempre, ah!, sempre havia uma suposta outra no papo dos namorados - em menor ou em maior grau, sempre havia algo de extremamente clichê, mas os detalhes eram a riqueza. Pedia uma cerveja e tomava-a lentamente, nunca tinha muito dinheiro, precisava então fazer o consumo demorado, antes pedia café, mas o café acabava rápido, e os gerentes olhavam feio. Às vezes, pensava se havia alguma profissão parecida, achou que seria psicologia, mas logo desistia, precisaria responder às pessoas, dar conselhos, e ela gostava mesmo era de ouvir, saber.
Ia cada dia em um lugar diferente, assustava-a que pudessem taxá-la de bisbilhoteira ou a solitária, porque sempre que se observa, assim, em lugares públicos, corre-se o risco de também ser observada, e ela não saberia como agir sendo ela o alvo da atenção.
Nesse dia, sentou-se em um bar vazio, os dois garçons conversavam, ela sentou-se, pediu a cerveja e, minutos depois, entrou um rapaz que também sentou-se só. Não conseguia classificá-lo, quem seria ele? Homem esperando amigos, homem esperando namorada, não conseguia identificá-lo.
Os olhares dele e dela se cruzaram umas tantas vezes, a cerveja dela já estava pela metade e mais ninguém entrara pela porta.
O interesse dela por aquele rapaz tonara-se trasbordante, não conseguia tirar os olhos dele. Como seria sua voz? No que ele ali pensava? Que profissão teria ele? Não havia uniforme, pasta, ele poderia ser qualquer coisa. Levantou-se, foi ao banheiro para passar o mais próximo possível dele, passou estrategicamente com toda graça que uma mulher possui quando quer algo, foi, voltou, ele até a olhou, mas nada disse, talvez nem tenha olhado para sua bunda como ela acharia normal. Sentiu-se um pouco ridícula quando retornou à mesa, não se achava muito bonita.
Ele então levantou-se, pagou a conta e se foi. Isso aconteceu às 20h38 de uma quinta-feira, horário e dia em que sempre poderemos encontrar a bela do cigarro (como a nomeou em segredo um dos garçons), a sós, naquele bar não muito aconchegante e longe de sua casa, à espera de um próximo encontro.

Sheyla Coelho

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